Dona Joaquina do Pompéu e a descendência sefardita em Minas Gerais
A descendência sefardita, hoje, pode ser encontrada em todos os cantos do Brasil. Entretanto, em alguns territórios encontramos marcas mais profundas dessa presença e seu impacto em terras brasileiras. Este é o caso, por exemplo, de Minas Gerais. O Estado conta com uma vasta descendência sefardita e parte significativa dela está ligada à união de Joaquina Bernarda da Silva de Abreu Castelo Branco com Inácio de Oliveira Campos, descendente direito de Antônio Bicudo Carneiro.
Dona Joaquina do Pompéu, como ficou registrado na história, era filha de portugueses imigrados para o Brasil antes de seu nascimento. O pai, Jorge Abreu Castelo Branco, era advogado e original da cidade de Viseu, no norte de Portugal. Sua mãe chamava-se Jacinta Teresa da Silva e consta que era natural da Ilha do Faial, no arquipélago dos Açores. Nascida em 20 de agosto de 1752, em Mariana, na capitania das Minas, Joaquina, após o falecimento da mãe, muda-se em 1762 com o restante da família para a Vila de Pitangui.
A união com Inácio de Oliveira Campos
Foi na nova morada da família que ela conheceu e se casou, em 1764, com Inácio de Oliveira Campos na altura capitão-mor da capitania das Minas Gerais. Descendente direto do sefardita Antônio Bicudo Carneiro, Capitão Inácio era comandante da Companhia de Ordenanças e sob ordens do governado da Capitania das Minas Gerais, comandou a incursão bandeirante que desbravou os sertões mineiro e goiano. Inácio e Joaquina tiveram 10 filhos.
Logo após o casamento, o casal arrendou a fazenda Lavapés, localizada nos arredores da Vila de Pitangui. Foi naquelas terras que Joaquina, para além da esposa do capitão-mor e mãe de sua prole, deu os primeiros passos para se tornar uma força política até hoje reconhecida em Minas Gerais. Como as funções do marido exigia que este ficasse longos períodos fora de casa, Joaquina desde o início do casamento teve um papel muito presente na administração da fazenda e dos negócios da família.
Em 1784, em busca de ampliar os negócios e a capacidade de produção de bens agrícolas, bem como a criação de gado, Joaquina e Inácio compram a fazenda do Pompéu, um extenso lote de terras que compreendia as fazendas do Pompéu, Mato Grosso, Santa Rosa, Monte Serrate e Diamante. É do nome da fazenda que surge a alcunha Dona Joaquina do Pompéu. Já que nesta altura era ela a principal responsável pela produção e de comercialização dos bens das fazendas.
Segundo a pesquisadora Laizeline Oliveira, “É neste ponto da história da matriarca que seu nome ficará conhecido na capitania de Minas, já que ela será uma das responsáveis pelo abastecimento de gêneros alimentícios de diversas vilas. […] Em meados de 1790, Dona Joaquina administrava cerca de 10 fazendas na região da Vila de Pitangui e na Vila de Paracatu do Príncipe, além disso cuidava da comercialização dos produtos das suas fazendas.”
A senhora de Minas Gerais
É importante destacar que a condição de fazendeira e mulher de negócios de Dona Joaquina do Pompéu a colocou numa posição de poder na Capitania de Minas Gerais, para além daquela que as ligações familiares já lhe proporcionavam – Joaquina era, por exemplo, parente do governador da capitania, Conde de Valadares. No livro, “Dona Joaquina do Pompéu”, os autores Coroliano Ribeiro e Jacinto Guimarães destacam na ausência de um representante da lei, na região onde Joaquina exercia sua influência, era ela quem dava palavra final fosse para punir, prender ou investigar, bem como para conceder perdões ou indultos.
Entretanto, o seu lugar de destaque na vida social, econômica e política da região não impediu que Dona Joaquina exercesse o seu papel de matriarca no seio de sua família. família. Preocupada em preservar o status e os bens da família, garantiu para seus quatro filhos e seis filhas bons casamentos, com indivíduos circunscritos nos círculos familiares ou de amizade. Assim, através dos matrimônios dos filhos Joaquina reforçou ainda mais laços econômicos e de amizade.
Ao se referir a figura de Dona Joaquina, Oliveira afirma que “A Fazenda do Pompéu, a casa-grande da matriarca, sem dúvidas, foi o símbolo maior do poder de Dona Joaquina. Nos Autos do Inventário, registrado em Pitangui, podemos mensurar a dimensão da propriedade que abrangia o que hoje são mais de 10 municípios mineiros. A propriedade possuía o sobrado onde residia a família, engenho de cana e de serra, dois moinhos, quatro monjolos, paiol, currais, senzalas, plantações variadas (milho, café, algodão, arroz, etc.), sevo de porcos, gado, equinos.”
A sua descendência
Dona Joaquina do Pompéu faleceu em 1824, 20 anos após o marido, e deixou um legado que se estendeu no tempo. Facilmente são encontrados trabalhos e pesquisas que buscam compreender a importância dessa mulher no contexto colonial patriarcal da América Portuguesa no século XVIII e XIX. Além disso, Dona Joaquina continua sendo celebrada na região onde constituiu sua família e fortuna.
Segundo informações do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, Artístico e Histórico de Pompéu, estima-se que de união de Joaquina com Capitão Inácio, além dos 10 filhos, tenha-se uma descendência sefardita que se estendeu para 87 netos, 333 bisnetos e 1.108 trinetos, podendo o número de descendentes, nos dias de hoje, chegar a 80 mil pessoas espalhadas pelo Brasil.
Assita també ao vídeo: Os judeus sefarditas em Minas Gerais
Importante lembrar
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