Entrevista: Escrita por Lira Neto, biografia dos judeus sefarditas deve chegar às livrarias em breve
Após uma extensa e cuidadosa pesquisa e escrita, o autor cearense João Lira Cavalcante Neto está pronto para lançar seu mais novo trabalho: Arrancados da Terra. Jornalista reconhecido por premiadas biografias como as de José de Alencar, Padre Cícero e Getúlio Vargas, Lira Neto dedica sua nova obra, não a vida de um personagem, mas a de um povo, os judeus sefarditas. A biografia, que deve ser lançada ainda este semestre, narra a chegada desse povo à Península Ibérica até a sua expulsão entre os séculos XV e XVIII e a sua consequente dispersão pelo mundo. Recentemente o autor publicou a capa do livro em suas redes sociais.
Lira, afinal, que são os judeus sefarditas que lhe inspiraram a escrever um livro?
O que havia era uma remota possibilidade de fazer uma biografia de Maurício de Nassau, isso lá em 2002, 2003, mas as circunstâncias foram me levando a outros projetos e eu acabei deixando o Nassau de lado. Percebi que eu tinha mais do que uma biografia de Nassau. Eu tinha uma história ali, de uma biografia não de uma pessoa, mas eu tinha uma biografia coletiva. Eu começo o livro tratando de uma discussão de quando os primeiros judeus teriam chegado à península Ibérica. Esses judeus, que chegaram à península Ibérica em épocas muito remotas, passam a ser conhecidos como sefarditas exatamente por causa do antigo nome da península, as terras Sefarad.
Fui juntando esse material até perceber que como se já não bastasse a deriva do povo judaico com todas as suas diásporas, tinha uma diáspora específica, que era exatamente desses sefarditas que foram vítimas da Inquisição. Primeiro, na Espanha, o que levou muitos deles a se refugiarem em Portugal. Quando há o édito de expulsão português, eles tomam vários caminhos e vários destinos. Então, a cultura do judaísmo sefardita se espalha pelo mundo da época. Começam a se formar grandes centros de atração dos sefarditas, como Veneza e o norte da África. E o que passou a me interessar foi um grupo específico que vai para Amsterdã, pois faz ligação exatamente com Maurício de Nassau.
É um emaranhado de informações. Foi isso que o fez ter interesse por essa história?
Quando eu percebi que havia ali um novelo de acontecimentos, de fatos, de episódios, de personagens, eu disse: “bom, vamos tentar juntar as pontas desse novelo para produzir uma narrativa coesa”. E a gente sabe que uma narrativa que trata com documentação de tanto tempo, há um monte de lacunas e mistérios, às vezes alguns resolvíveis, outros não. Então foi aí que eu disse: “bom, Maurício de Nassau que nada! Quando eu tiver oportunidade, eu vou me debruçar sobre esse assunto”.
Após a fuga da península Ibérica, os sefarditas espalharam-se por todo o mundo e há uma vasta bibliografia sobre o tema. Como seu livro abordará esta pluralidade de informações?
Há trabalhos acadêmicos, inclusive muito consistentes, mas falta uma boa narrativa que una todos esses pontos. Era como se cada um desses livros fossem capítulos de um uma possível obra maior. Além disso, eu vi a necessidade de focar em personagens que transformassem essa história não em uma coisa relatorial, mas que fosse possível identificar na documentação histórias de vida.
Você comentou em entrevistas que essa sua pesquisa ajuda a entender as raízes históricas da intolerância e também do preconceito. O que é que te faz acreditar nisso?
Essa documentação deixa muito claro que esse é, talvez, o fio condutor de todos esses dramas individuais que resultam neste livro. Ou seja, eram pessoas essencialmente marcadas pela intolerância. Elas viviam a fugir de situações limite, elas viviam a tentar escapar para preservar a própria vida, porque havia uma desconfiança, uma perseguição exatamente pelo fato de elas serem diferentes. Sempre são vítimas de uma exclusão produzida pela diferença. E a não aceitação dessa diferença se manifesta nessa documentação de forma extremamente violenta. Essa violência às vezes é simbólica, às vezes é física e outras vezes é manifestada por meio de sangue.
Então, por isso eu dedico o livro a todos os deserdados, a todos os exilados, a todos os refugiados, porque esta é uma história atualíssima. Essa história, essa busca de uma terra prometida, é tão antiga quanto a humanidade e ao mesmo tempo ela é tão atual. É impressionante como no século XXI nós ainda estamos discutindo esse tipo de tema, ainda é preciso se dedicar um livro às pessoas que são tangidas, expelidas do seu território.
O livro vai ser lançado também em Portugal?
Eu quero que ele seja publicado aqui também, porque boa parte dos personagens são portugueses. Sem dúvida nenhuma é um livro que precisa ser lido pelos brasileiros, pelos portugueses e também pelos holandeses e norte-americanos.v
Confira a entrevista completa que fizemos com o autor:
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