Transmissão da Nacionalidade: o que muda com a nova proposta do governo português?

Por Isabel Comte
Nas últimas semanas, a proposta de alteração à Lei da Nacionalidade — Proposta de Lei n.º 1/XVII/1ª — tem gerado apreensão entre a comunidade lusodescendente espalhada pelo mundo. Em causa estão as regras aplicáveis à transmissão da nacionalidade portuguesa a filhos menores e a cônjuges de cidadãos portugueses.
Antes de mais, é essencial esclarecer: os mecanismos atualmente em vigor permanecem válidos. Os artigos 2.º e 3.º da Lei da Nacionalidade continuam a permitir que filhos menores ou incapazes de cidadãos naturalizados adquiram a nacionalidade portuguesa por declaração de vontade, acompanhando assim a situação dos progenitores. Da mesma forma, os cônjuges e companheiros em união de fato com mais de três anos com cidadãos portugueses mantêm o direito à nacionalidade nas mesmas condições.
Estes dispositivos consagram o princípio da unidade familiar, um valor central do nosso ordenamento jurídico. A nacionalidade não é apenas um estatuto legal: é, em muitos casos, a reafirmação de um vínculo afetivo e identitário que atravessa gerações.
A proposta do governo, contudo, introduz novos critérios de ligação efetiva à comunidade portuguesa. Entre os requisitos agora sugeridos encontram-se:
- o conhecimento suficiente da língua e da cultura portuguesas;
- a compreensão dos direitos e deveres associados à nacionalidade; e
- a adesão aos princípios fundamentais do Estado de Direito Democrático.
Estas exigências não revogam os direitos existentes, mas procuram garantir que os novos cidadãos tenham uma relação viva e participativa com a comunidade nacional. Tal como está redigida, a proposta prevê que estas condições apenas serão aplicadas após regulamentação específica, que deverá considerar, entre outros aspectos, a situação particular de requerentes menores de idade.
Este debate não é apenas jurídico — é profundamente simbólico. A transmissão da nacionalidade portuguesa representa, para muitas famílias, a continuidade de uma herança cultural e emocional que ultrapassa fronteiras. É, por isso, essencial que as mudanças legislativas sejam acompanhadas com clareza, equilíbrio e respeito pela história das comunidades portuguesas no estrangeiro.
Portugal construiu-se também fora das suas fronteiras. Que a lei saiba reconhecer isso.

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