em 15 de fevereiro de 2021

A descendência sefardita em Minas Gerais

em 15 de fevereiro de 2021

A descendência sefardita em Minas Gerais

A presença de cristãos-novos e seus descendentes no Nordeste brasileiro é bastante conhecida. Mas é sempre bom lembrar que a descendência de sefarditas se estende a praticamente todas as regiões brasileiras. Este é o caso da região hoje pertencente ao Estado de Minas Gerais que ao longo do século XVIII recebeu sefarditas cristãos-novos, que viram no desenvolvimento da região uma oportunidade para se estabelecerem e desenvolverem suas atividades econômicas.

De acordo com a coordenadora da equipe de genealogia da Martins Castro, Camila Amaral, “a descoberta das minas de ouro e diamantes entre finais do século XVII e início do Século XVIII, favoreceram o fluxo migratório intenso, para aquela região, de indivíduos que estavam interessados em desenvolver atividade mineradora e assim melhorarem suas vidas, enriquecerem, melhorarem o seu status social”.

É importante lembrar que as Minas Gerais, naquela altura, era uma região nova, recém povoada e em desenvolvimento, o que atraiu os cristãos-novos que tinham interesse na atividade mineradora, direta ou indiretamente. Aqueles que não estavam diretamente ligados à atividade mineradora, na extração de ouro e diamante, aproveitaram o aumento do fluxo de pessoas e da geração de riquezas na região para desenvolverem os seus negócios. “Esses cristãos-novos eram comerciantes que estabeleciam os seus negócios ou que transitavam entre as vilas para desenvolver suas redes de comércio”, explica a genealogista da Martins Castro.

De Portugal para o Brasil

Sobre a origem dos cristãos-novos que se estabeleceram em minas, sabe-se que grande parte deles migraram do Norte de Portugal em direção ao Brasil. Camila destaca que “existiu um fluxo migratório volumoso, ao longo de todo o Séculos XVIII, às vezes de aldeias inteiras, que se deslocaram do norte de Portugal em direção às Minas Gerais. Essas aldeias eram onde estavam localizadas as comunidades de cristãos-novos mais numerosas de Portugal.”

Já no Brasil, esses sefarditas e seus descendentes se concentraram em algumas regiões de Minas Gerais. Historicamente não é viável precisar os territórios onde eles se estabeleceram primeiro, mas de acordo com a data de fundação das vilas, hoje cidades, ao longo do Século XVIII é possível mapear por onde esses indivíduos transitaram e se estabeleceram. Dentre essas vilas/cidades estão Mariana, Ouro Preto, São João del-Rei, Tiradentes, Barbacena, Pitangui, Carrancas, Eurôca, Caxambu e toda de Lavras.

O afastamento do litoral como fator migratório

Além do desenvolvimento da região, o afastamento do litoral, ao menos nos primeiros anos de crescimento das Minas Gerais, foi um atrativo para os cristãos-novos portugueses. Essa condição geográfica acabava por oferecer uma espécie de refúgio para esses indivíduos, em especial para aqueles que continuavam a praticar o judaísmo em segredo. É importante lembrar que, mesmo depois da conversão forçada e já fora de Portugal, os sefarditas continuaram a ser alvo de perseguição nos centros urbanos brasileiros onde exista um estrutura governamental, administrativa e eclesiástica mais consolidada, o que, consequentemente, garantiu a presença de uma ação inquisitorial mais sistemática nesses locais.

“Alguns cristãos-novos viram, num primeiro momento, nas Minas Gerais também uma espécie de espaço de proteção, onde estavam protegidos da ação inquisitorial, de um possível processo denúncia. Entretanto, o desenvolvimento dos estudos sobre os cristãos-novos na região de Minas Gerais, demonstram que essa sensação de proteção não se verificou ao longo de todo o Século XVIII. Afinal, à medida em que a região das Minas se desenvolveu, cresceu em importância econômica e em termos populacionais, a inquisição voltou seus olhos para aquela região”, conta Camila.

Assim, a necessidade de observação existente em outros centros urbanos, como em Recife e Salvador, que até então eram os locais de atração de indivíduos de diversas origens, a partir do século XVIII, passa a se fazer presente também em outras localidades. Verifica-se então uma ampliação da ação da inquisição, que ao longo dos anos de 1700 ganha força no atual Sudeste brasileiro.

Perpetuando sua estratégia de atuação, em Minas Gerais, a Inquisição também contou com uma rede de agentes de origem civil ou eclesiástica que espionava, vigiava, delatava, denunciava e eventualmente prendia pessoas que cometiam crimes passíveis de punição pela inquisição. Dentre estes estavam, sobretudo, os indivíduos de origem cristã-nova, que eram os grandes alvos do Tribunal do Santo Ofício, principalmente, pelo crime de judaísmo.

“No Brasil, Minas Gerais, no Século XVIII, ocupou o segundo lugar em termos de prisão pelo Tribunal do Santo Ofício. Só perdeu do Rio de Janeiro, portanto isso também denota que existiu ali uma ação muito incisiva da inquisição”, explica Camila.

A descendência de sefarditas em Minas

A presença sefardita em Minas Gerais deixou uma descendência extensa. Neste contexto pode-se destacar duas famílias. A primeira descende do fundador de Baependi, Tomé Rodrigues Nogueira do Ó. Descendente direto do sefardita Antônio Bicudo Carneiro, Tomé Rodrigues Nogueira do Ó, gerou uma numerosa descendência que extrapolou o Estado de Minas Gerais e se estendeu além fronteiras chegando aos Estados do Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Bahia e Rio de Janeiro.

A segunda família está ligada a Dona Joaquina de Pompéu, figura feminina muito conhecida em Minas Gerais. Joaquina não era descendente direta de um judeu sefardita, mas casou-se com um descendente de Antônio Bicudo Carneiro. Dessa união resultou uma descendência extensa, cuja ancestralidade está vinculada a um sefardita.

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