em 2 de julho de 2020

Carneiro da Fontoura, militares por tradição

em 2 de julho de 2020

Carneiro da Fontoura, militares por tradição

O sobrenome composto Carneiro da Fontoura está inscrito na história da conquista do território que hoje compõe o estado do Rio Grande do Sul. Mas a sua origem é bem mais antiga, remontando ao período da Reconquista Ibérica, quando os cristãos expulsaram os mouros das terras que dariam origem a Portugal e Espanha. Da península Ibérica ao Brasil, os Carneiro da Fontoura sempre levaram consigo a tradição militar.

Os Carneiro

Não apenas uma, mas várias são as versões apontadas como origem da família Carneiro, atualmente encontrada de Norte a Sul do Brasil. Pesquisadoras como Maria Luiza Tucci Carneiro e Anita Waingort Novinsky defendem que o sobrenome tem origem judaica sefardita, sendo muito frequente sua adoção por famílias desta origem.

Há outra corrente que acredita em uma origem francesa, tendo como expoente o genealogista Manuel José da Costa Felgueiras Gaio, em sua obra “Nobiliário de Famílias de Portugal”, segundo o qual o sobrenome foi uma adaptação portuguesa ao sobrenome francês Mouton, palavra que naquela língua significa carneiro.

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Uma terceira teoria, defendida pelo historiador português José Pedro Machado aponta que o sobrenome Carneiro teria sido originado como alcunha para uma família de pastores de carneiros/ovelhas em Portugal. Há registro de seu uso desde, pelo menos, o século XIII. Já Manuel de Sousa, em “As Origens dos Apelidos das Famílias Portuguesas”, aponta que a mais antiga referência deste apelido é a um Pedro Carneiro, senhor das terras de Valdevez (hoje, no distrito de Viana do Castelo).

Os Fontoura

De origem portuguesa, na genealogia, o sobrenome Fontoura é um dos mais fáceis de serem trabalhados, pois não sofreu corruptelas com o passar do tempo. Como o próprio nome deixa pistas, teria sua origem na junção das palavras “fonte áurea”, que por sua vez batizou o povoado localizado no Noroeste do Portugal. A região agrícola, cercada por milharais e vinhas, caracteriza-se ainda pela criação de gado caprino e teria sido ocupada há pelo menos 2.500 anos, passando por civilizações pré-romanas, como a cultura castreja.

Segundo a tradição, o nome Fontoura tem origem numa fonte existente na região, cujas águas trariam consigo algumas partículas de ouro, ficando conhecida como a Fonte d’Ouro. O que parecia ouro, na verdade, é a limonita, um importante minério de ferro na cor castanha amarelada que podia ser encontrada no fundo da água. Desta forma, da fonte, o nome passou para o povoado que, depois, deve ter sido adotado pelo patriarca da família. 

Os Carneiro da Fontoura

As histórias das duas famílias se entrelaçaram cedo. Há registros de portugueses utilizando o sobrenome composto há pelo menos 700 anos, remontando à origem do reino de Portugal. Quanto ao Brasil, registra-se a chegada ainda no período colonial dos primeiros membros da família Carneiro da Fontoura, em Recife, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

O mais proeminente, sem dúvida, foi João Carneiro da Fontoura. Nascido por volta de 1679 em Chaves, Portugal, era o segundo filho de D. Francisca Velloza e Antônio Carneiro da Fontoura, escrivão vitalício da comarca de Chaves e um dos últimos morgados de Loivos. A carreira militar trouxe João ao Brasil, em 1700, especificamente a Congonhas dos Campos, nas Minas Gerais, indo após para Curral d’El-Rey (hoje Belo Horizonte), ingressando no Regimento da Mineração.

Casou-se tarde, por volta dos 50 anos de idade, com Izabel da Silva, portuguesa de origem cigana nascida em Torres Novas, Arcebispado de Lisboa. Sua primeira filha, Francisca Velloza, nasceu em 1729 em Congonhas dos Campos, onde casara. Tudo levava a crer que se fixaria na região das Minas Gerais.

Contudo, no contexto das disputas territoriais entre Portugal e Espanha no Sul do Brasil, João Carneiro da Fontoura chega ao Rio Grande entre as primeiras tropas para lá enviadas, especialmente constituídas de dragões das Minas Gerais, logo transformadas em regimento, sob o comando de André Ribeiro Coutinho. Na aventura, estava acompanhado pela mulher e quatro filhos.

Com o passar do tempo, a família cresce e ganha proeminência na região. O 10º filho do casal, Alexandre, nasceu em 1751, já no Rio Grande, quando João Carneiro da Fontoura tinha 72 anos. Veio a falecer em 19 de agosto de 1769, com 90 anos, na vila do Rio Pardo, tendo passado antes por Viamão.

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A descendência sefardita

A avó paterna de João Carneiro da Fontoura, María Taveira de Magalhães, descendia de Abraham bem Eliyahu Senior (Segovia, 1412-1493), banqueiro e político influente na corte, responsável pelas finanças reais e último rabino-mor da Espanha. Com o Decreto de Alhambra, obrigando os judeus à conversão ao cristianismo ou a abandonarem o reino, Abraham, que já contava 80 anos de idade, decidiu converter-se, adotando o nome de Fernão, Fernán ou Fernando Nunes Coronel, apesar de haver indícios de que seguiu praticando o judaísmo secretamente até sua morte, no ano seguinte.

Os descendentes de João Carneiro da Fontoura espalharam-se por diversas cidades do Rio Grande do Sul, como Dom Pedrito, Porto Alegre, Rio Pardo, Viamão, pelos demais estados próximos e até pelo Paraguai. Participaram ativamente da Guerra dos Farrapos e, através de casamentos com as famílias mais importantes da região, originaram ramos como os Barreto Pereira Pinto, Simões Pires, Charão, Silveira Casado, Menna Barreto, Barreto Viana, Palmeiro.

Importante lembrar: Os sobrenomes são indícios, mas não determinam se você é ou não descendente de judeus sefarditas. Para comprovar esse vínculo, é realmente necessário um estudo genealógico.